domingo, 30 de novembro de 2014

A Morte de Cada Dia

Teus olhos refletem a escuridão do mundo
Que cai com destreza pelo vil sofrimento
E o tempo, em prantos, ressoa profano
O grito, a dor, seu vago lamento

A terra, que queima, destrói tantas almas
Que entoa, em hino, sua grande ilusão
E o tempo, em prantos, ressoa profano
Escutando, incrédulo, a voz da razão

O sangue, que escorre, sorri levemente
Tão gélido e afável que ameniza a dor
Os corpos, no fogo, se arrepiam de frio
Perdidos nas asas daquele senhor

Que grita, que chora, que ri, desafia
Vendo em seus olhos a escuridão do luar
E o tempo, em prantos, ressoa profano
E vai definhando até se acabar

sábado, 13 de setembro de 2014

Sucata

Ouço o vento seco murmurar em suas vísceras
Corrompo-te, insana, com a força da própria dor
Estraçalho-te, ávida, com a graça de um ceifador
Enquanto danço sobre o fogo e te faço perder o ar

A chuva cai sobre nossos corpos e arde como pimenta
A sua carne, o seu ofego, uma dor tão suculenta
Eu procuro pelo bosque do vazio e da escuridão
Mas só encontro o teu sangue, o cérebro e o coração

Se já não pensas, não entendes, para que se preocupar
Com esta pele, estes olhos, que aqui só refletem dor (?)
E se te amo é porque sei que de mim não provém amor
Mas sim uma vontade insana de agora te destruir

E em cima de seu cadáver a mim só restará rir.

sábado, 3 de maio de 2014

Estorvo

Sobre o abismo mais profundo da mente
Sobrevoam corvos, corpos imponentes
Que atormentam com seu canto agudo
Naquele grande aterro do mundo

Sob eles, o resto, o lixo
Indignos, indigentes, bichos
Grunhindo o grito da dor
E esperando um deus de amor

Mas isso não lhes será útil
Esse culto supérfluo e fútil
Em um deus que a Deus dará 
Que nunca veio e nunca virá

domingo, 13 de abril de 2014

Sutil Mordaça

De longe, tão longe
Vasos corrompidos na sanguínea direção
Se passo, caído, um chamado, um grunhido
Não fugirei tão forte da minha própria razão

Não vejo 
Do lado, o prado tão solto
Que traz consigo o ruído 
A batida do apotrefado coração

E se bebo, tão pálido
Próspero, ácido
Não quero me libertar dessa prisão 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aceitação

Essa minha crença infrutífera
Não me leva a lugar algum
Eu oro por liberdade
Mas nada mais faço que me aprisionar

E se reluto, eu perco o ar

Me fortifica manter a calma
E outrora me rebelar
Mas só sei que aqui escondida
A minha alma só vai gritar

E se reluto, eu perco o ar

Em pranto vil, enxugo as lágrimas
E então desperto do encanto
E se não canto, eu perco o santo
Ele vai me abandonar

E se reluto, eu perco o ar

Assim, no espelho, vejo uma imagem
E não encontro a semelhança
Fui enganada! Perdi meu tempo!
Só o que eu quero é me libertar

Mas se reluto, eu perco o ar

Preciso de ajuda, mas não sei a quem recorrer
Todos estão alienados, e só pra cima conseguem olhar
Essa religião está nos prendendo
Então só me resta superfluamente orar

E relutando, perdi o ar.