terça-feira, 23 de julho de 2013

Sotúrbulo Delírio Noturno

Procuro por um instante
Nesse frio sotúrbulo
Por um barulho que vire música
E uma música que vire barulho

E neste mesmo frio molhado
Me cai uma gota do céu
Um gato vem pelo telhado
Pisando macio como um véu

Me arrepia da cabeça aos pés
Pensar que não será sempre assim
Saber que amanhecerá
E a noite chegará ao fim

E a cada estrela que eu conto
O tempo passa mais rápido
Como o silêncio de um corpo morto
Sinto-me perdendo o tato

E no coma passei meus dias
Sonhando com um momento assim
Desperto dos meus delírios
E retorno à noite enfim.

E nessa mesmo instante eu vago
Pedindo pra que o tempo não me açoite
E no frio eco noturno me perco,
Oh, noite... noite... noite...

(Henrique Caixeta e Lorena Mendes)

Odeio-te, Corpo Maldito

Odeio-te, corpo maldito
Submerso nas águas impuras do pecado
Repletas de desordem e traição.

Odeio-te, corpo maldito,
Bastardo, imundo, hipócrita
Formado por uma alma ingrata
Predestinada ao mais arrogante inferno.

Corpo maldito, por que fizestes isto?
Já tão somente precisava viajar nos próprios fetiches
E corroer um coração enfim laçado
Pelo mais profundo e oculto amor?

Não olhe mais em meus olhos;
Eles estão inundados em lágrimas de sangue.
Destruamos nossos laços
Que amarramos com tanto zelo.

Ouça a voz dessa alma perdida
Que te fala mesmo que esteja sofrendo,
Caída.

Peço que esqueça-me, largada alma.
Procure sua outra parte
Já que eu mesma vos parti com pensamentos.

Peço também que mate-me,
Já que em meu âmago,
Mesmo com grande poder de anistia,
Consigo com frieza dizer que não 
Te perdoo. 





Anjos do Inferno

Anjos do inferno,
Lutem por suas almas.
Interrompam logo a combustão do mundo 
E entreguem-se sem hesitar ao etéreo.

Anjos do inferno,
Que insistem em esconder-se em pele humana,
Reivindiquem logo sua transição antes do fim,
Já que a eternidade depois dele
Nem aos mortos caberá.

Anjos do infinito,
Conturbados e malevolentes,
Destruam logo sua onisciência
E abandonem esses corpos amaldiçoados.

Anjos da morte,
Retirem-se tão somente do mar da hipocrisia.
Quebrem os vidros das próprias ambições
E viajem à praia mais deserta da blasfêmia.

Oh, lindos anjinhos de auréola quebrada,
Não é de meu fetio amá-los.
Portanto, saiam de minha vida.

Evoco-te e Destruo-me

Aos pés de um trono, ao som de trombetas
Derreto-me e dilacero-me em chamas.
Ouço o cantar das pragas
E deixo-me banhar de sangue.

Teu olhar sobre mim paira
Oculto na fosca penumbra.
Em tua boca um caldo vermelho,
Em minha pele marcas de dor e tortura.

Sinto em seu toque a suavidade de um anjo.
Por trás desta, a maldade de um demônio.
Teu murmurar ecoa em meu esôfago
E tua presença queima como o fogo mais ardente.

Te evoco mais uma vez à mim
E me preparo para a morte novamente.
Mesmo sabendo de tudo,
Vejo que ela me valerá à pena...