sábado, 28 de dezembro de 2013

Nefasta Elegância

Ó nefasta elegância,
Tens um brilho ígneo
Em ti jaz a beleza
Tal qual morreu em tuas mãos

Morreu naquele exato dia
Em que, em tua magesta companhia,
cravastes-me uma lança na garganta
Barrindo como uma feroz elefanta
Que com audácia protege o lar

Mas teu lar por si só era si mesma
E se protegia com tamanha destreza
Que nem perigo podia farejar

Só sei, ó nefasta elegância,
Que de ti provém tamanha arrogância
Que com leveza e lirismo apaixona
Ao mesmo tempo que destrói e destrona
E desgraças traz ao encantar

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Meu subterfúgio

Subterfúteis são as minhas orações
E tão impuras são as frases e as razões
Onde estou que não vejo o mundo girar?
Tão infeliz que nem vou respirar

Se me questiono, aqui estou.
Subterfúgio?
Subterfúgio.
Subterfúgio.
Subterfúgio?

sábado, 17 de agosto de 2013

Reflexos

A perda muitas vezes nos faz sentir que o inferno desabou sobre nós...


Com tantas pessoas no mundo, por que aquele enxame de desgraças escolheu logo minha família e meus amigos? Por que não me levou no lugar deles? Só posso estar pagando pelos meus pecados - ou o inferno chegou à humanidade.

Dez dias após os acidentes e o falecimento de tantas pessoas que amava, ali estava eu; sentada sobre uma rocha, sob o brilho do luar. Lua ensanguentada, que ajudou na destruição da minha vida e aumentou minha culpa, meu sofrimento, meus pesadelos... Tudo de que eu precisava era de uma mudança, um início que me fizesse esquecer tudo e que diminuísse o fluxo das minhas lágrimas.

Disposta a recomeçar, peguei minha bicicleta, coloquei uma roupa diferente daquela que eu havia usado naquela "uma semana e três dias", e dei o primeiro passo importantíssimo da minha trajetória - a viagem para um lugar novo, um ambiente que me pudesse proporcionar novas ideias, novas inspirações, novas lembranças...

Pedalei sem parar durante uma hora e quinze minutos. Sempre no sentido oeste, resolvi descansar um pouco à beira de um rio de águas cristalinas e puras. O único problema é que era noite, por isso não dava para apreciar melhor sua beleza. Apesar disso, a luz da lua na água refletia, fazendo com que maior ficasse seu esplendor.

Eu tive inveja... Ver algo tão puro e inocente... Gostaria de ser assim também, mas minhas mãos denunciavam-me. A busca pela remissão era dificílima, praticamente impossível. Percebi que meu maior erro foi ter nascido.

Acabei adormecendo ali mesmo, e só acordei às quatro horas da manhã. Não esperei muito: logo procurei algo para comer nas árvores que havia lá perto. Consegui apenas uma manga meio verde - comê-la era minha única opção.

Não perdi tempo: subi em minha bicicleta e prossegui rumo ao meu novo destino, já começando a próxima fase do meu futuro, que possivelmente secaria as gotas de sangue que sujam meu coração já quase apodrecido.

Passei duas horas pedalando, fiz algumas pausas, somente. Pouco à frente de onde estava, avistei um pequeno bosque. Parecia mais a entrada de uma floresta. Na realidade, eu estava pedalando sobre o chão de uma estrada praticamente deserta, e o tal bosque provavelmente teria a saída para uma fazenda ou algo assim, se prosseguisse certos quilômetros adiante.

Parei um pouco e pensei: já estava cansada, havia apreciado belas vistas, as quais ajudaram um pouco na limpeza da minha alma. De fato, nada tinha a perder. Segurei mais firmemente no guidom e recomecei as pedaladas, agora seguindo rumo à "floresta".

Apesar de o caminho até lá ser de apenas alguns 2 quilômetros, parecia-me ser muito mais. Mesmo tentando desviar o foco das memórias, ele sempre se direcionava à elas: momentos de loucura, nos quais a doença corria meu atos e destruía minha carne - as mãos tinham cheiro de sangue. As lágrimas continuavam a escorrer.

Comecei a adentrar à mata. Não mais sentada na bicicleta, pois o caminho dificultava fazer isso. Agora, eu estava em pé, segurando meu meio de transporte como se fosse uma cruz bem pesada. Minha culpa aumentava seu peso.

Fui andando cada vez mais, até que, em determinado ponto, deparei-me com uma porta feita de espelhos. Era grande e refletia tudo de um modo consideravelmente melhor. Galhos que estavam quebrados ou secos, lá dentro esbanjavam beleza. Com certeza era uma porta atraente, e me convidava para por ela passar.

Encostei meus dedos em sua maçaneta e pus-me a girá-la. Realmente... Eu nada tinha a perder com isso. Fechei meus olhos e a atravessei, sem qualquer medo que fosse.

Naquele instante, tudo parecia melhorar. Senti o perfume de minha mãe passando por mim. Abri os olhos e logo me surpreendi com o que estava à frente: cenas de minha vida em todo o seu decorrer, do início à doença, que foi o fim da liberdade de minha alma.

A princípio, vi momentos de grande alegria: eu e meus grandes amigos em um acampamento, meu pai e eu correndo pelo parque, todos sorrindo... Era simplesmente inenarrável o prazer da minha felicidade. Consegui, inclusive, sorrir, mas logo comecei a chorar. Era triste saber que eu havia destruído com minhas próprias mãos aqueles que de fato faziam com que minha felicidade existisse. Naquele dia... Naquela festa...

Viajei por toda a minha linha do tempo, e isso foi realmente inesquecível. Quando me dei conta, estava de joelhos no chão, em prantos. Mãos tapando os olhos, comecei a me sentir tonta. Círculos psicodélicos giravam cada vez mais em cores preto e branco. Desmaiei.

De repente, senti-me despertar. Estava deitada sobre minha cama, e ouvi bater à porta do quarto.

"Lorena?! Está pronta? Precisamos ir logo ao supermercado para comprar as coisas da festa!"

Era a voz do meu irmão. Naquele instante, meus olhos se encheram de lágrimas. O que acontecera afinal? Como ele poderia estar vivo? Levantei-me imediatamente e corri para abraçá-lo. Foi o abraço mais feliz da minha vida.

E de repente eu estava lá: de volta ao mundo real, dois dias antes da doença. Talvez pudesse recomeçar, e impedir que tudo ocorresse novamente...


...Mas, infelizmente, um destino não pode ser alterado...
           

terça-feira, 23 de julho de 2013

Sotúrbulo Delírio Noturno

Procuro por um instante
Nesse frio sotúrbulo
Por um barulho que vire música
E uma música que vire barulho

E neste mesmo frio molhado
Me cai uma gota do céu
Um gato vem pelo telhado
Pisando macio como um véu

Me arrepia da cabeça aos pés
Pensar que não será sempre assim
Saber que amanhecerá
E a noite chegará ao fim

E a cada estrela que eu conto
O tempo passa mais rápido
Como o silêncio de um corpo morto
Sinto-me perdendo o tato

E no coma passei meus dias
Sonhando com um momento assim
Desperto dos meus delírios
E retorno à noite enfim.

E nessa mesmo instante eu vago
Pedindo pra que o tempo não me açoite
E no frio eco noturno me perco,
Oh, noite... noite... noite...

(Henrique Caixeta e Lorena Mendes)

Odeio-te, Corpo Maldito

Odeio-te, corpo maldito
Submerso nas águas impuras do pecado
Repletas de desordem e traição.

Odeio-te, corpo maldito,
Bastardo, imundo, hipócrita
Formado por uma alma ingrata
Predestinada ao mais arrogante inferno.

Corpo maldito, por que fizestes isto?
Já tão somente precisava viajar nos próprios fetiches
E corroer um coração enfim laçado
Pelo mais profundo e oculto amor?

Não olhe mais em meus olhos;
Eles estão inundados em lágrimas de sangue.
Destruamos nossos laços
Que amarramos com tanto zelo.

Ouça a voz dessa alma perdida
Que te fala mesmo que esteja sofrendo,
Caída.

Peço que esqueça-me, largada alma.
Procure sua outra parte
Já que eu mesma vos parti com pensamentos.

Peço também que mate-me,
Já que em meu âmago,
Mesmo com grande poder de anistia,
Consigo com frieza dizer que não 
Te perdoo. 





Anjos do Inferno

Anjos do inferno,
Lutem por suas almas.
Interrompam logo a combustão do mundo 
E entreguem-se sem hesitar ao etéreo.

Anjos do inferno,
Que insistem em esconder-se em pele humana,
Reivindiquem logo sua transição antes do fim,
Já que a eternidade depois dele
Nem aos mortos caberá.

Anjos do infinito,
Conturbados e malevolentes,
Destruam logo sua onisciência
E abandonem esses corpos amaldiçoados.

Anjos da morte,
Retirem-se tão somente do mar da hipocrisia.
Quebrem os vidros das próprias ambições
E viajem à praia mais deserta da blasfêmia.

Oh, lindos anjinhos de auréola quebrada,
Não é de meu fetio amá-los.
Portanto, saiam de minha vida.

Evoco-te e Destruo-me

Aos pés de um trono, ao som de trombetas
Derreto-me e dilacero-me em chamas.
Ouço o cantar das pragas
E deixo-me banhar de sangue.

Teu olhar sobre mim paira
Oculto na fosca penumbra.
Em tua boca um caldo vermelho,
Em minha pele marcas de dor e tortura.

Sinto em seu toque a suavidade de um anjo.
Por trás desta, a maldade de um demônio.
Teu murmurar ecoa em meu esôfago
E tua presença queima como o fogo mais ardente.

Te evoco mais uma vez à mim
E me preparo para a morte novamente.
Mesmo sabendo de tudo,
Vejo que ela me valerá à pena...