terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Pura Noite I

Em meio ao crepúsculo, em meio ao grito do silêncio
Um badalar de sino enaltecia o lugar
Lindas velas sacras rubras aguardavam o julgamento
Das lágrimas do vento que abençoavam o altar

O corpo da garota, linda, pura e emortecida,
Repousava sobre o manto sob o sol a se deitar
A criatura, preparada pra iniciar a profecia,
Recitava em monodia o som dos corvos a cantar

Ergueu as suas mãos, enegrecendo todo o céu
Cortou os olhos da garota com seu sagrado punhal
Devorou-os lentamente, sentido o incrível sabor
Do mel da inocência inextirpada pelo mal

Concluído o prelúdio, a criatura ajoelhou-se
As velas conflagraram-se e o corpo levitou
De repente, lá estavam, em meio ao sacro santuário
Servindo de mortuário àquela alma que expirou

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Pura Noite II

Uma tocha apagada no fundo do salão
Candelabros imórbidos sangrando pelo chão
A luz que não se atreve a pela porta entrar
E um forte vento frio que se espalha pelo ar

A noite cai tão triste que os corvos se preparam
Pra cantar o belo hino da vil degradação
Uma alma negra e fétida vem andando lentamente
Perseguida pelos rastros de sangue do salão

Sobre a mesa, o belo corpo da menina linda e pura
Os seus olhos arrancados demonstravam grande dor
Os corvos já cantavam com um grito incessante
Atormentando aquela noite de tristeza e pavor

A criatura ia chegando, preparando suas mãos
Para cumprir a profecia e aquele corpo estuprar
E na escuridão da noite, à sinistra monodia
A sagaz necrofilia foi com ela se deitar

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Buscai-me

Escuridão que me consola nas horas frias
E com ardor enxuga os prantos de minha dor
Reabrace-me n'aurora do canto do dia
E na lamúria do tempo replante a flor

Flor que nasceu no fundo de minh'alma
Naquele tempo em que eu ouvia a solidão gritar
E no fundo do abismo encontrei a calma
Em uma dor que só você conseguiu me dar

Abrace-me novamente nesta noite sombria
Pois meus olhos já não suportam enxergar a luz
Transforme-me agora e no passar dos dias
Naquilo que sou quando você me conduz

terça-feira, 31 de março de 2015

Carmem

À luz da Lua Vermelha
Ao som dos corvos a cantar
Num semblante absorto ela surge
Tão bela e tão singular

Seus trajes demonstram remorso
Seu olhar, uma pura inocência
Suas mãos, tão sujas de sangue
Trazem amor, e não penitência

Num lindo ato de paz
Num lindo gesto de glória
Ela carrega em sua memória
A imagem do corpo no altar

Os sinos agouram insanos
O céu nem de longe se vê
A Lua descansa em prantos 
Como um deus que nem mesmo em si crê

E tão bela, tão cheia de vida
Ela volta pra escuridão
Seu sorriso demonstra saudade
Das fincadas em seu coração

As horas passavam depressa
As estrelas caíam do céu
E seu lindo anjinho da guarda
A levou enrolada no véu

Fora dos eixos

Sigo o brilho da Lua nesta noite escura
Tento tirar seus olhos do meu fraco coração
As estrelas choram e me enchem de lágrimas frias
E os raios imitam o dedilhar desta canção

Sinto o cheiro da terra que molha meus pés
Tenho medo deste escuro, mas sua presença me acalma
Carrego comigo o peso de minha alma
E deixo a melodia do teu encanto me guiar

domingo, 30 de novembro de 2014

A Morte de Cada Dia

Teus olhos refletem a escuridão do mundo
Que cai com destreza pelo vil sofrimento
E o tempo, em prantos, ressoa profano
O grito, a dor, seu vago lamento

A terra, que queima, destrói tantas almas
Que entoa, em hino, sua grande ilusão
E o tempo, em prantos, ressoa profano
Escutando, incrédulo, a voz da razão

O sangue, que escorre, sorri levemente
Tão gélido e afável que ameniza a dor
Os corpos, no fogo, se arrepiam de frio
Perdidos nas asas daquele senhor

Que grita, que chora, que ri, desafia
Vendo em seus olhos a escuridão do luar
E o tempo, em prantos, ressoa profano
E vai definhando até se acabar

sábado, 13 de setembro de 2014

Sucata

Ouço o vento seco murmurar em suas vísceras
Corrompo-te, insana, com a força da própria dor
Estraçalho-te, ávida, com a graça de um ceifador
Enquanto danço sobre o fogo e te faço perder o ar

A chuva cai sobre nossos corpos e arde como pimenta
A sua carne, o seu ofego, uma dor tão suculenta
Eu procuro pelo bosque do vazio e da escuridão
Mas só encontro o teu sangue, o cérebro e o coração

Se já não pensas, não entendes, para que se preocupar
Com esta pele, estes olhos, que aqui só refletem dor (?)
E se te amo é porque sei que de mim não provém amor
Mas sim uma vontade insana de agora te destruir

E em cima de seu cadáver a mim só restará rir.

sábado, 3 de maio de 2014

Estorvo

Sobre o abismo mais profundo da mente
Sobrevoam corvos, corpos imponentes
Que atormentam com seu canto agudo
Naquele grande aterro do mundo

Sob eles, o resto, o lixo
Indignos, indigentes, bichos
Grunhindo o grito da dor
E esperando um deus de amor

Mas isso não lhes será útil
Esse culto supérfluo e fútil
Em um deus que a Deus dará 
Que nunca veio e nunca virá

domingo, 13 de abril de 2014

Sutil Mordaça

De longe, tão longe
Vasos corrompidos na sanguínea direção
Se passo, caído, um chamado, um grunhido
Não fugirei tão forte da minha própria razão

Não vejo 
Do lado, o prado tão solto
Que traz consigo o ruído 
A batida do apotrefado coração

E se bebo, tão pálido
Próspero, ácido
Não quero me libertar dessa prisão 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aceitação

Essa minha crença infrutífera
Não me leva a lugar algum
Eu oro por liberdade
Mas nada mais faço que me aprisionar

E se reluto, eu perco o ar

Me fortifica manter a calma
E outrora me rebelar
Mas só sei que aqui escondida
A minha alma só vai gritar

E se reluto, eu perco o ar

Em pranto vil, enxugo as lágrimas
E então desperto do encanto
E se não canto, eu perco o santo
Ele vai me abandonar

E se reluto, eu perco o ar

Assim, no espelho, vejo uma imagem
E não encontro a semelhança
Fui enganada! Perdi meu tempo!
Só o que eu quero é me libertar

Mas se reluto, eu perco o ar

Preciso de ajuda, mas não sei a quem recorrer
Todos estão alienados, e só pra cima conseguem olhar
Essa religião está nos prendendo
Então só me resta superfluamente orar

E relutando, perdi o ar.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Nefasta Elegância

Ó nefasta elegância,
Tens um brilho ígneo
Em ti jaz a beleza
Tal qual morreu em tuas mãos

Morreu naquele exato dia
Em que, em tua magesta companhia,
cravastes-me uma lança na garganta
Barrindo como uma feroz elefanta
Que com audácia protege o lar

Mas teu lar por si só era si mesma
E se protegia com tamanha destreza
Que nem perigo podia farejar

Só sei, ó nefasta elegância,
Que de ti provém tamanha arrogância
Que com leveza e lirismo apaixona
Ao mesmo tempo que destrói e destrona
E desgraças traz ao encantar

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Meu subterfúgio

Subterfúteis são as minhas orações
E tão impuras são as frases e as razões
Onde estou que não vejo o mundo girar?
Tão infeliz que nem vou respirar

Se me questiono, aqui estou.
Subterfúgio?
Subterfúgio.
Subterfúgio.
Subterfúgio?

sábado, 17 de agosto de 2013

Reflexos

A perda muitas vezes nos faz sentir que o inferno desabou sobre nós...


Com tantas pessoas no mundo, por que aquele enxame de desgraças escolheu logo minha família e meus amigos? Por que não me levou no lugar deles? Só posso estar pagando pelos meus pecados - ou o inferno chegou à humanidade.

Dez dias após os acidentes e o falecimento de tantas pessoas que amava, ali estava eu; sentada sobre uma rocha, sob o brilho do luar. Lua ensanguentada, que ajudou na destruição da minha vida e aumentou minha culpa, meu sofrimento, meus pesadelos... Tudo de que eu precisava era de uma mudança, um início que me fizesse esquecer tudo e que diminuísse o fluxo das minhas lágrimas.

Disposta a recomeçar, peguei minha bicicleta, coloquei uma roupa diferente daquela que eu havia usado naquela "uma semana e três dias", e dei o primeiro passo importantíssimo da minha trajetória - a viagem para um lugar novo, um ambiente que me pudesse proporcionar novas ideias, novas inspirações, novas lembranças...

Pedalei sem parar durante uma hora e quinze minutos. Sempre no sentido oeste, resolvi descansar um pouco à beira de um rio de águas cristalinas e puras. O único problema é que era noite, por isso não dava para apreciar melhor sua beleza. Apesar disso, a luz da lua na água refletia, fazendo com que maior ficasse seu esplendor.

Eu tive inveja... Ver algo tão puro e inocente... Gostaria de ser assim também, mas minhas mãos denunciavam-me. A busca pela remissão era dificílima, praticamente impossível. Percebi que meu maior erro foi ter nascido.

Acabei adormecendo ali mesmo, e só acordei às quatro horas da manhã. Não esperei muito: logo procurei algo para comer nas árvores que havia lá perto. Consegui apenas uma manga meio verde - comê-la era minha única opção.

Não perdi tempo: subi em minha bicicleta e prossegui rumo ao meu novo destino, já começando a próxima fase do meu futuro, que possivelmente secaria as gotas de sangue que sujam meu coração já quase apodrecido.

Passei duas horas pedalando, fiz algumas pausas, somente. Pouco à frente de onde estava, avistei um pequeno bosque. Parecia mais a entrada de uma floresta. Na realidade, eu estava pedalando sobre o chão de uma estrada praticamente deserta, e o tal bosque provavelmente teria a saída para uma fazenda ou algo assim, se prosseguisse certos quilômetros adiante.

Parei um pouco e pensei: já estava cansada, havia apreciado belas vistas, as quais ajudaram um pouco na limpeza da minha alma. De fato, nada tinha a perder. Segurei mais firmemente no guidom e recomecei as pedaladas, agora seguindo rumo à "floresta".

Apesar de o caminho até lá ser de apenas alguns 2 quilômetros, parecia-me ser muito mais. Mesmo tentando desviar o foco das memórias, ele sempre se direcionava à elas: momentos de loucura, nos quais a doença corria meu atos e destruía minha carne - as mãos tinham cheiro de sangue. As lágrimas continuavam a escorrer.

Comecei a adentrar à mata. Não mais sentada na bicicleta, pois o caminho dificultava fazer isso. Agora, eu estava em pé, segurando meu meio de transporte como se fosse uma cruz bem pesada. Minha culpa aumentava seu peso.

Fui andando cada vez mais, até que, em determinado ponto, deparei-me com uma porta feita de espelhos. Era grande e refletia tudo de um modo consideravelmente melhor. Galhos que estavam quebrados ou secos, lá dentro esbanjavam beleza. Com certeza era uma porta atraente, e me convidava para por ela passar.

Encostei meus dedos em sua maçaneta e pus-me a girá-la. Realmente... Eu nada tinha a perder com isso. Fechei meus olhos e a atravessei, sem qualquer medo que fosse.

Naquele instante, tudo parecia melhorar. Senti o perfume de minha mãe passando por mim. Abri os olhos e logo me surpreendi com o que estava à frente: cenas de minha vida em todo o seu decorrer, do início à doença, que foi o fim da liberdade de minha alma.

A princípio, vi momentos de grande alegria: eu e meus grandes amigos em um acampamento, meu pai e eu correndo pelo parque, todos sorrindo... Era simplesmente inenarrável o prazer da minha felicidade. Consegui, inclusive, sorrir, mas logo comecei a chorar. Era triste saber que eu havia destruído com minhas próprias mãos aqueles que de fato faziam com que minha felicidade existisse. Naquele dia... Naquela festa...

Viajei por toda a minha linha do tempo, e isso foi realmente inesquecível. Quando me dei conta, estava de joelhos no chão, em prantos. Mãos tapando os olhos, comecei a me sentir tonta. Círculos psicodélicos giravam cada vez mais em cores preto e branco. Desmaiei.

De repente, senti-me despertar. Estava deitada sobre minha cama, e ouvi bater à porta do quarto.

"Lorena?! Está pronta? Precisamos ir logo ao supermercado para comprar as coisas da festa!"

Era a voz do meu irmão. Naquele instante, meus olhos se encheram de lágrimas. O que acontecera afinal? Como ele poderia estar vivo? Levantei-me imediatamente e corri para abraçá-lo. Foi o abraço mais feliz da minha vida.

E de repente eu estava lá: de volta ao mundo real, dois dias antes da doença. Talvez pudesse recomeçar, e impedir que tudo ocorresse novamente...


...Mas, infelizmente, um destino não pode ser alterado...
           

terça-feira, 23 de julho de 2013

Sotúrbulo Delírio Noturno

Procuro por um instante
Nesse frio sotúrbulo
Por um barulho que vire música
E uma música que vire barulho

E neste mesmo frio molhado
Me cai uma gota do céu
Um gato vem pelo telhado
Pisando macio como um véu

Me arrepia da cabeça aos pés
Pensar que não será sempre assim
Saber que amanhecerá
E a noite chegará ao fim

E a cada estrela que eu conto
O tempo passa mais rápido
Como o silêncio de um corpo morto
Sinto-me perdendo o tato

E no coma passei meus dias
Sonhando com um momento assim
Desperto dos meus delírios
E retorno à noite enfim.

E nessa mesmo instante eu vago
Pedindo pra que o tempo não me açoite
E no frio eco noturno me perco,
Oh, noite... noite... noite...

(Henrique Caixeta e Lorena Mendes)

Odeio-te, Corpo Maldito

Odeio-te, corpo maldito
Submerso nas águas impuras do pecado
Repletas de desordem e traição.

Odeio-te, corpo maldito,
Bastardo, imundo, hipócrita
Formado por uma alma ingrata
Predestinada ao mais arrogante inferno.

Corpo maldito, por que fizestes isto?
Já tão somente precisava viajar nos próprios fetiches
E corroer um coração enfim laçado
Pelo mais profundo e oculto amor?

Não olhe mais em meus olhos;
Eles estão inundados em lágrimas de sangue.
Destruamos nossos laços
Que amarramos com tanto zelo.

Ouça a voz dessa alma perdida
Que te fala mesmo que esteja sofrendo,
Caída.

Peço que esqueça-me, largada alma.
Procure sua outra parte
Já que eu mesma vos parti com pensamentos.

Peço também que mate-me,
Já que em meu âmago,
Mesmo com grande poder de anistia,
Consigo com frieza dizer que não 
Te perdoo. 





Anjos do Inferno

Anjos do inferno,
Lutem por suas almas.
Interrompam logo a combustão do mundo 
E entreguem-se sem hesitar ao etéreo.

Anjos do inferno,
Que insistem em esconder-se em pele humana,
Reivindiquem logo sua transição antes do fim,
Já que a eternidade depois dele
Nem aos mortos caberá.

Anjos do infinito,
Conturbados e malevolentes,
Destruam logo sua onisciência
E abandonem esses corpos amaldiçoados.

Anjos da morte,
Retirem-se tão somente do mar da hipocrisia.
Quebrem os vidros das próprias ambições
E viajem à praia mais deserta da blasfêmia.

Oh, lindos anjinhos de auréola quebrada,
Não é de meu fetio amá-los.
Portanto, saiam de minha vida.

Evoco-te e Destruo-me

Aos pés de um trono, ao som de trombetas
Derreto-me e dilacero-me em chamas.
Ouço o cantar das pragas
E deixo-me banhar de sangue.

Teu olhar sobre mim paira
Oculto na fosca penumbra.
Em tua boca um caldo vermelho,
Em minha pele marcas de dor e tortura.

Sinto em seu toque a suavidade de um anjo.
Por trás desta, a maldade de um demônio.
Teu murmurar ecoa em meu esôfago
E tua presença queima como o fogo mais ardente.

Te evoco mais uma vez à mim
E me preparo para a morte novamente.
Mesmo sabendo de tudo,
Vejo que ela me valerá à pena...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Início da Maldição Prateada

Siga a sombra... Não pare de andar. Observe atentamente as estrelas. Anjos cairão do céu. Demônios também. Não tenha medo. Vença-os. Você tem esse poder. Deixe que suas asas cresçam. Elas são douradas, brilham mais que o sol. Feche seus olhos. Respire fundo. Não deixe os demônios possuírem seu corpo. Nem os anjos. Seja forte. Seja você mesmo. Se sangrar, una-se ao sangue. Se lágrimas caírem, alimente-se delas. Se a carne for dilacerada, assopre. Acorde em seu túmulo, mas não perca a guerra.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Desconexões

Há conexões no mundo
Que nos desconectam da realidade
E se essas conexões fossem destruídas?
Haveria, então, tamanha verdade?

A Sombra da Infelicidade

Era um vez uma pequena cidade no meio do deserto. Lá, as pessoas faziam oferendas ao seu Deus com a vida dos próprios moradores, normalmente os mais desprovidos de beleza. Por isso, todos faziam o que fosse possível para ser belos.

Um garoto, chamado Cruzoé, provavelmente seria o próximo a ser ofertado ao Deus Mikanael, que todas as noites aparecia no centro do deserto com aquela aparência assombrante e demoníaca.

O garoto não era adorador de Mikanael, e muito menos o enxergava como um Deus. Mas, de qualquer maneira, ele fazia de tudo para ser bonito e ter sua vida garantida.

A noite já chegava, e Cruzoé estava ficando com muito medo por já ter a quase certeza de que seria ofertado a demônio que eles chamavam de Deus.

À meia noite, ele estava dormindo - todo arrumado, por precaução. Mas nada adiantou: alguns vizinhos foram até sua casa, com o consentimento de seus pais, e o levaram para o meio do deserto.

No caminho, o garoto acordou e, em pânico, começou a se debater em tentativas de fugir. Porém, estas fracassaram: quando Mikanael emergiu da areia do deserto, um grande fogo se abriu, e o lançaram em seu interior.

Cruzoé morreu, mas sua alma ficou para sempre vagando pela cidade.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Do Outro Lado da Montanha

Há muitos anos atrás, na estranha vila em que eu sempre vivi, acordei de um profundo sono com a trágica notícia: "Tooly morreu!"

Tooly era meu gato de estimação. Nós sempre caminhávamos pelas tristes manhãs desse mundo acinzentado, que só trazia tristeza e desgosto. Mas hoje, com essa horrível notícia, caí em prantos e, sozinha, resolvi caminhar pela estrada da escuridão.

Andei por aquele imenso bosque, que era chamado de estrada por transportar as almas perdidas que vagavam pela nossa vila até o tão escuro céu.

Nunca tive medo, pois sabia que um dia eu também passaria por lá.

Enquanto caminhava, eu observava como tudo era feio e destruído. Meu desejo sempre fora residir num mundo belo, com vida, com paz...

Ao longe, observei uma grande montanha, que parecia ter uma luz em seu topo. Nessa montanha, havia uma escada, que não parecia ser muito confiável para se subir.

"Por que alguém construiria uma escada numa montanha enorme?!", me perguntei. "Mas e daí? O que me interessa nesse momento é subir até o topo!"

Subi as escadas, confiante. Cada degrau em que pisava me dava um sentimento de paz.

Chegando lá, fiquei boquiaberta: uma imensa floresta verde e iluminada, com fadas e duendes. Toda aquela beleza me trouxe uma sensação de... simplesmente de vida!

Decidi largar toda aquela escuridão e me joguei naquela paisagem perfeita de cima da montanha. Senti meu corpo flutuar, e de repente não senti mais nada. O que eu nunca soube é se aquele paraíso era verdade ou se foi apenas minha mente me ajudando a me livrar da vida amarga que eu levava.